Ontem, 24 de outubro de 2024, Papa Francisco publicou a encíclica “Dilexit Nos”. No documento o sumo pontífice aborda o amor humano e divino através do símbolo do Coração de Jesus Cristo e outros homens que tiveram vidas santas, como São Vicente de Paulo e Paulo VI. No ponto "210" da encíclica, o Santo Padre afirma:
"São Vicente de Paulo ensinou-o muito bem quando convidou os seus discípulos a pedir ao Senhor «esse coração, esse coração que nos faz ir a toda a parte, esse coração do Filho de Deus, o coração de Nosso Senhor, que nos dispõe a ir como Ele iria […] e nos envia como enviou-lhes [os apóstolos], para levar o seu fogo a toda a parte". Na carta, o Papa nos convida a redescobrirmos a importância do coração como centro de nossa vida humana e espiritual.
A importância do coração
Na tradição grega, o termo “karidia” refere-se ao centro do ser humano, onde o pensamento e o sentimento estão interligados. O coração é o lugar onde as decisões são tomadas e as conexões com outras pessoas são estabelecidas. Papa Francisco destaca que a falta de atenção ao coração leva à alienação e às relações superficiais.
A sociedade contemporânea corre o risco de perder o seu centro, presa no consumismo e na tecnologia. Isso causa uma desconexão com o sentido da vida e da identidade, tornando-se um desafio desses tempos. Os fiéis são convidados a refletir sobre questões fundamentais relacionadas à existência e ao propósito pessoal, levando a uma conexão mais profunda com os seus corações. O coração é visto como o núcleo da identidade espiritual, onde se encontra a capacidade de amar e ser amado. A verdadeira autenticidade e realização são alcançadas vivendo com o coração.
Gestos e palavras de amor
O Coração de Cristo é o núcleo do primeiro anúncio do Evangelho. Jesus se aproxima das pessoas com amor e compaixão, mostrando que não há lugar para o medo em Seu relacionamento conosco.
O Papa menciona como Jesus olha para as pessoas com amor, reconhecendo as suas lutas e sofrimentos. Este olhar é um gesto de proximidade e aceitação. A entrega de Cristo na cruz é a expressão máxima do amor. São Paulo sublinha que o amor de Cristo se manifesta no seu sacrifício pela humanidade. A devoção ao Sagrado Coração não deve ser vista como uma distração de Cristo, mas como um caminho para um relacionamento mais profundo com Ele.
Amor que sacia
O Coração de Cristo tem sede de amor e busca ser retribuído. Esta sede manifesta-se no desejo de que os homens correspondam ao seu amor. O amor aos irmãos é a melhor resposta ao amor de Cristo. O Papa sublinha que o amor não pode ser separado da ação social e do compromisso com os outros. A reparação ao Coração de Cristo envolve trabalhar para curar as feridas do mundo e construir uma civilização do amor. Isto requer um compromisso ativo com a justiça e a dignidade humana.
Construindo sobre as ruínas
A reparação não é apenas um ato individual, mas tem um forte significado social. O Papa Francisco apela aos cristãos para que se unam na construção de uma sociedade mais justa e solidária. A necessidade de reparação também é sobre curar corações feridos pelo pecado e pela injustiça. O amor de Cristo deve fluir através de nossas ações para com os outros. A verdadeira reparação é oferecida ao Coração de Cristo, permitindo que o seu amor se expanda no mundo. Isto requer uma transformação do coração humano.
Amor por amor
A resposta ao amor de Cristo deve ser o amor para com os outros. O Papa sublinha que o amor não é fabricado, mas surge de uma transformação do coração. A missão dos cristãos é comunicar o amor de Cristo ao mundo. Isto é vivido em comunhão com a comunidade e a Igreja. A missão não é apenas um dever, mas uma expressão do amor recebido. Os missionários devem ser pessoas apaixonadas por Cristo, dispostas a partilhar esse amor.
O Papa Francisco conclui a encíclica pedindo que o coração de Cristo derrame rios de amor e cura no mundo. Há um apelo ao reconhecimento da dignidade de cada pessoa e ao trabalho conjunto por um mundo mais justo e solidário, onde o amor de Cristo transforme as relações humanas e a sociedade como um todo. A encíclica convida todos a despojar-nos de nosso egoísmo passando a habitar um mundo mais afetivo, a viver do amor e a construir um futuro cheio de esperança e fraternidade.
