Por ‘carisma’, etimologicamente originado do grego ‘khárisma’ e do latim ‘charísma’ e que significa “dom da natureza, graça, favor, benefício”, pode-se dizer, no geral, que é um dom natural que desperta admiração, respeito ou fascinação; qualidade de quem desperta o fascínio ou atrai a simpatia das pessoas com as quais convive. Teologicamente e segundo o Compêndio do Catecismo Católico, os carismas “são dons especiais do Espírito Santo de Deus, concedidos a alguém para o bem dos homens, para as necessidades do mundo e, em particular, para a edificação da Igreja” (n. 160).
O ‘Carisma Vicentino’ trata, então, do legado de São Vicente de Paulo. As suas experiências vivenciais a ‘partir do mundo dos pobres’, contextualizadas, históricas. Suas práticas, ensinamentos, exemplos de vida e comprometimento. A sua capacidade laborativa, empreendedora nas respostas aos desafios do mundo, no serviço e na ação junto aos pobres: “a quem devemos cuidar do corpo e da alma, com amor afetivo e efetivo”, dizia São Vicente! Portanto, no amor compassivo, misericordioso, solidário e concreto, libertador e prospectivo junto aos necessitados. É vida vivida na fé e obediência a Deus, seguindo o Espírito de ‘Jesus Cristo, Evangelizador dos Pobres’. Sua mística, sentido e razão de ser e viver! Herança histórica que, a qualquer tempo, torna-se convite e desafio à revivência, ao resgate, à vivificação, atualização, ao comprometimento e à continuidade.
Na pequena Folleville, no interior da França, no ano de 1617, foi quando Padre Vicente de Paulo pregou o primeiro sermão da missão inaugurando, então, o carisma vicentino. A partir de então ele passou a orientar, educar, formar (e transformar) seus paroquianos, guiando-os no resgate da dignidade humana, na promoção do bem-estar coletivo e da convivência humanizadora, na busca de valorização da vida em todos os campos e aspectos. Em Châtillon-lesDombes (atualmente, Châtillon-sur-Charlaronne) foi onde se iniciou a organização dos serviços da caridade. A constatação da extrema pobreza e total carência de uma família da região, torna-se o motivo da pregação de uma das missas e estimula as pessoas de boa vontade a uma “marcha de solidariedade e partilha de bens e serviços em favor dos necessitados”.
Duas experiências especiais e complementares que, a partir da descoberta do abandono espiritual de um povo inteiro e do descaso social para com os pobres moradores do campo e das periferias, revelaram ao então Pe. Vicente, uma nova compreensão da realidade – a releitura dos fatos e acontecimentos da história, a dimensão comprometida da fé professada, utopias que norteiam uma vida; a razão última que se pode dar à própria existência e o sentido mais abrangente do sacerdócio ou ‘missão de cada um’, doação e serviço!