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As lições de São Vicente de Paulo 05 de Novembro de 2020 27 pontos para reflexão a partir da biografia do santo fundador da Congregação da Missão Pe. J. Patrick Murphy, CM
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Mais de 1.500 biografias de São Vicente foram escritas nos quatro séculos desde que ele caminhou sobre a terra. Dentre elas, várias foram publicadas em diversos volumes; algumas versões com defeito, outras, piedosas, e várias, de boa qualidade. Meu propósito aqui é o de mostrar, em poucas palavras, o quanto Vicente realizou através de suas obras e o quanto nós podemos aprender com este mestre para fazer a diferença neste mundo. Este artigo não é sobre a espiritualidade, a teologia, ou a oração de Vicente; nem sobre sua História ou histórias sobre ele. Existem estudos excelentes sobre tais temas; inclusive, recomendo vários deles – alguns bem curtos –, ao final destas linhas, para quem desejar ler mais.

Por que se preocupar com um homem que viveu há 400 anos?

O que podemos aprender, de fato, de importante para hoje? Proponho-lhes algumas razões à serem consideradas.

“A maior das realizações de Vicente, o que se pode chamar sua Opera Omnia, é o notável corpo de obras de caridade iniciadas por ele, e que ainda floresce como seu legado” (Melito, p. 41, 2010).

  • Sua herança, hoje, vai muito além das obras iniciadas por ele.
  • Seu trabalho mudou a percepção do mundo sobre os pobres.
  • Sua organização do serviço dos pobres foi pioneira na história mundial.
  • Ele era um homem comum e muito humano; às vezes egocêntrico, preocupado com dinheiro, ambicioso, com defeitos, sem direção certa – até que uma mudança contagiante acontece (“the tipping point”).
  • Ele deu tudo aos pobres e se tornou o homem mais rico em humanidade.
  • O mundo se voltou contra ele; e ele o mudou.
  • Esteve deprimido por três anos e meio.
  • Ele passou 25 anos à procura de si mesmo, encontrou Deus e os pobres.

Por que tantas pessoas no mundo seguem com paixão seus passos, 400 anos mais tarde?

  • Membros da Sociedade de São Vicente de Paulo (SVP): 800.000+
  • Membros da Companhia das Filhas da Caridade (FC): 16.000+
  • Membros da Congregação da Missão (CM): 3.231+
  • Membros da Associação Internacional de Caridade (AIC): 150.000+
  • Membros da Juventude Marial Vicentina (JMV): 100.000 +
  • Membros e voluntários da Depaul Internacional: 2.000 + 
  • Organizações da Família Vicentina: 40+
  • Organizações que se inspiram de Vicente de Paulo : 250+ 

O que revela um nome?

Seu nome, ele sempre o assinou “Vincent DePaul.” Ele queria ter certeza de não ser confundido com alguém da nobreza; ele poderia ter tirado partido da situação, se assinasse “De Paul”. Todos os que o conheceram e o admiraram, chamavam-no de santo, de sábio, de homem virtuoso, de apóstolo da caridade, e na sua morte, père de la patrie – pai da pátria. Mas ele preferia ser chamado simplesmente de Monsieur Vincent para não criar barreiras entre ele e os demais, especialmente os pobres. 

O mundo no alvorecer do século XVII

Desde o nascimento de Vicente em 1581, e ao longo de toda sua vida, a França esteve em guerra por uma razão ou por outra, exceto nos seus últimos meses de vida. Quando Vicente nasceu a população de Paris era de cerca de 200.000 hab.; em 1660, ano de sua morte, ela havia se duplicado. Nesta época, a sociedade francesa era composta de três classes ou grupos de pessoas, os nobres, os camponeses, e o clero. Para a grande maioria das pessoas que não nasciam da nobreza, e cuja sorte era a de trabalhar nas terras dos nobres, as chances de melhorar de vida eram quase nulas – a não ser que se tornasse clérigo.

Nascimento: Vicente de Paulo nasceu em abril de 1581, mas seus primeiros biógrafos deram como data 1576 - porque eles procuravam esconder o fato de que ele teria sido ordenado muito jovem, supostamente sem ter atingido a idade permitida pela lei.

Ele foi ordenado em 1600, quando ainda era estudante; e durante seu tempo livre, ele dirigia um pensionato para ajudar a pagar suas despesas. Ele se formou em teologia em 1604.

Depois de se formar, ele desapareceu por dois anos, sendo encontrado finalmente em Roma. Mais de uma pessoa suspeitaria que ele estivesse fugindo para não pagar empréstimos feitos na época de seus estudos. O certo é que não tendo encontrado em Roma as portas abertas para subir na vida rapidamente, ele vai para Paris.

Em Paris, tornou-se deprimido e frustrado correndo atrás de um ganho honesto, rentável, e de possíveis fontes de renda para garantir seu futuro. Quando a sorte começou a sorrir-lhe, ele escreveu à sua mãe em 1610, que logo poderia lhe enviar uma boa quantia para sustentá-la com toda a família por muitos anos. E que logo, tudo correndo bem, ele teria fontes de renda suficientes para se retirar honestamente. Ele tinha 29 anos.

A grande mudança de Vicente

Vicente passou seus primeiros anos tentando chegar ao topo, tentando juntar dinheiro o suficiente para viver confortavelmente, para tomar conta de sua família e viver o resto de sua vida de maneira tranquila, retirando-se honestamente. Ele quase conseguiu. Mas quando chegou aos 36 anos, ele teve de se confrontar com uma mudança irreversível que o atingiu, desviando-o de rota.

Malcolm Gladwell escreve sobre o ponto de virada ou de revés (“the tipping point), como o momento em que as coisas se unem para inclinar o fiel da vida rumo a algo novo. Para Vicente, esta mudança veio principalmente de duas experiências que se passaram no ano de 1617. A primeira delas se passou no mês de janeiro, no vilarejo de Folleville, (que significa cidade louca), quando ele fez a pregação ao povo. Na verdade, seu sermão teve um efeito tão grande sobre seus ouvintes que eles acorreram a ele para confessar; a multidão era tão grande que ele teve de pedir ajuda aos Jesuítas.

Em Folleville, Vicente descobriu os pobres e as grandes necessidades deles. E ele percebeu que era um pregador extremamente carismático.

O segundo acontecimento desta mudança de direção se passou em agosto. Vicente tinha acabado de deixar a família dos Gondi, seus patrões, para se tornar pároco em Châtillon-les-Dombes. Lá, ele foi informado sobre uma família cujos membros estavam todos doentes, sem alimentos, sem medicamentos e sem ninguém para cuidar deles. Ele ouviu, e a partir dessa realidade, fez um sermão impressionante. E Vicente aprendeu algo que ele aplicou em seu trabalho durante sua vida: em todo lugar há sempre grande caridade, mas ela está fracamente organizada. Prontamente ele decide organizá-la, criando o primeiro sistema de caridade organizado na Paróquia, deixando-o pronto antes do Natal de 1617.

Para grande decepção do povo da paróquia de Châtillon, ele voltou para a casa dos Gondi para retomar seu trabalho. Porém, a senhora de Gondi, vendo seu interesse e sua preocupação cada vez maiores para com os pobres, sugeriu-lhe que voltasse para Châtillon e que, lá, fosse feliz trabalhando com os pobres; ou ele poderia voltar a atenção para todos os pobres da França, organizando um serviço para todos eles. Vicente agarrou esta chance. Sua intuição lhe dizia que ele aceitaria. A senhora de Gondi investe $ 2,5 milhões, uma fortuna, para apoiar a iniciativa. Vicente tinha descoberto, com efeito, a missão pessoal de Jesus Cristo: “Eu vim para anunciar a Boa Notícia aos pobres”. Ele fez da missão de Jesus sua missão, de agora em diante.

Aos 32 anos, ele visitou sua família pela última vez, sentindo-se fracassado e envergonhado, pois, à partir deste momento, não conseguiria arranjar meios de melhorar as condições de sua família. Ele doou a sua herança aos seus sobrinhos e sobrinhas. O amor de Vicente pelos pobres deixou-os contentes. Enfim, ele retornou para Paris, sentindo profundamente ter de deixar sua família.

Em 1625 Vicente fundou a Congregação da Missão. Para comprometer a Igreja, as paróquias, na evangelização dos pobres, ele não mediu esforços no trabalho da reforma do clero. A situação em geral do clero ao qual Vicente ajudou a reformar é descrita por um bispo da época, quando descreve o seu próprio clero: 

“... um grande e incontável número de padres ignorantes e corruptos do meu clero não são capazes, nem por palavras ou por exemplos, de se emendarem. Fico horrorizado de pensar que em minha diocese há cerca de sete mil padres beberrões ou libertinos, sem vocação, que sobem ao altar todos os dias”. (Correspondência 683, CCD 2, 473)

Vicente começou seriamente à servir os pobres, reformando o clero.

Em 1633, ele fundou as Filhas da Caridade com Luísa de Marillac, uma viúva que fora até ele procurando um conselheiro espiritual. Neste mesmo ano, ele tomou posse de São Lázaro e lançou a maior das organizações modernas, em potencial de crescimento, já vista até então. O trabalho conjunto de Vicente e de Luísa desenvolveu exponencialmente o serviço social em pouquíssimos anos. Os dois, incompletos e imperfeitos um sem o outro, despertaram o melhor um do outro no melhor sentido da liderança transformacional, mudando o mundo do serviço. Eles não poderiam ter feito este trabalho um sem o outro.

Resumindo

Vicente institucionalizou suas obras de caridade nos últimos vinte anos de sua vida (1635-1660), gerenciando-as pessoalmente, sempre que possível, e através de orientações escritas, quando não podia fazê-lo pessoalmente. Ele escreveu mais de 30.000 cartas durante sua vida; delas, restam-nos mais de 11.000. 

Vicente foi uma pessoa de grande talento, com uma boa educação e uma grande paixão. Uma pesquisa da McKinsey & Company sobre grandes produtores descobriu que pessoas talentosas são raras. Talento faz uma diferença enorme, tornando-se extremamente crucial para uma vantagem competitiva. As melhores pessoas, em termos de talento, são muito melhores do que as demais. Por exemplo, 16 compositores criaram 50 por cento de toda a música clássica que se ouve até hoje. A outra metade vem de 235 compositores. Dez por cento dos autores escreveram 50 por cento dos livros da Biblioteca do Congresso dos E.U.A.. Pessoas altamente criativas erram tanto quanto as outras, no entanto elas produzem muito mais; por conseguinte, elas têm um maior sucesso. Vicente se enquadra nesta descrição, pois ele viveu mais, produziu mais, errou também e teve mais sucesso do que seus contemporâneos.

Mia Hamm, capitã da Equipe Feminina de Futebol, medalhista de ouro nos Jogos Olímpicos de 1996, disse muito bem:

“Os fatores mais importantes para o sucesso foram a comunicação, a compreensão mútua, o respeito e a capacidade de trabalhar em conjunto, desenvolvidos durante os doze anos, mais ou menos, em que o núcleo estável do grupo atuou junto”.

Lições da vida de Vicente de Paulo

1. Vicente passou 25 anos tentando encontrar-se, tentando evitar queimar a largada e tentando se livrar de sua própria ambição.

Lição: É normal ficar um pouco perdido no caminho quando se está à procura de si.

2. Vicente esteve deprimido por 3 anos e meio. Encontrar-se é um trabalho árduo.

Lição: Se você estiver atravessando o inferno, continue caminhando sem parar. (Sir Winston Churchill, primeiro-ministro da Inglaterra durante a Primeira Guerra Mundial).

3. Vicente passou sua vida até aos 36 anos (1617) procurando por si mesmo, procurando Deus, e por uma renda estável para que ele pudesse se retirar em grande estilo. Ele encontrou, com efeito, sua missão pessoal no serviço aos pobres.

Lição: Às vezes o que você encontra é muito melhor do que o que você procurava.

4. Vicente sentiu que havia falhado com a sua família e teve receio de ir vê- los; mas quando foi até lá e os encontrou, receberam-no amavelmente. Depois, ele retornou para Paris e nunca mais os viu. Ele chorou por três meses.

Lição: Às vezes é bom retornar a nossa casa familiar. Às vezes, algumas boas lágrimas ajudam.

5. Vicente viveu com a nobreza (a família dos Gondi), mas fazia suas refeições com os servos.

Lição: Humildade e simplicidade sempre funcionam bem com as pessoas.

6. Vicente finalmente tinha descoberto sua missão: anunciar a Boa Nova aos pobres, a mesma missão de Jesus-Cristo. Ele encontrou seu modelo.

Lição: É bom ter uma missão pessoal na vida. É ainda melhor se ela for altruísta e nobre. 

7. Os historiadores descrevem o período em que Vicente viveu como parte da chamada pequena idade glacial. Metade das colheitas se perderam; a fome aumentou num ritmo galopante e o número de pobres, exponencialmente.

Lição: É bom ter um grande desafio na vida. Você pode fazer a diferença de alguma maneira.

8. A França esteve em guerra durante toda a vida de Vicente, exceto nos últimos meses. A decapitação de dissidentes religiosos era comum. Uma grande parte do clero era incompetente, corrupta, ou ambos.

Lição: Não deixe que o ambiente o desencorage; você pode fazer a diferença de alguma maneira. 

9. Entre 1610 e 1660, a população de Paris aumentou de cerca de 200.000 para mais de 400.000 hab.. A cidade não podia fornecer água, comida, nem dispor de um serviço de coleta de dejetos, suficientes para tal população. As doenças aumentaram significativamente.

Lição: Às vezes, o crescimento piora as coisas. Tente ver, de alguma maneira, as oportunidades.

10. Vicente teve conselheiros e escolheu os melhores, como o padre Pierre de Bérulle e São Francisco de Sales. Vicente tornou-se con- selheiro e ajudou outras pessoas a descobrir o melhor delas: Jean- Jacques Olier, Santa Joana de Chantal, e Santa Luísa de Marillac.

Lição: Conselheiros fazem a diferença. Tenha um bom. Seja você mesmo um bom.

11. Em Luísa de Marillac Vicente encontrou a parceira perfeita para construir seu modelo de empreendimento que provocará uma mudança de impacto no mundo. Luísa, como Vicente, era imperfeita e tinha suas dificuldades, mas, juntos, eles foram uma fonte de inspiração.

Lição: Pessoas imperfeitas são tudo o que temos; aceite-as e trabalhe com elas. 

12. Um monge ofereceu a Vicente uma enorme propriedade, São Lázaro, fora dos limites da cidade de Paris. Ela tinha 74 hectares e para percorrer seu perímetro à pé, o tempo gasto era de uma hora e meia. Vicente a recusou porque, segundo ele, ela era muito grande, muito dispendiosa e mudaria a Congregação. Ele estava certo. O monge queria passar a propriedade para frente.

Lição: A primeira lei da economia: nada é gratuito. Cuidado com os cavalos de Tróia e com ofertas grátis. Jim Collins nos encoraja a ter metas grandes, “cabeludas” e audaciosas – em inglês, BHAGs, Big Hairy Audacious Goals. Trata-se de descobrir seu grande e audacioso objetivo. Quanto ao monge e a Vicente, à primeira vista, nenhum dos dois viu aí uma oportunidade.

13. Apenas um ano mais tarde Vicente aceitará São Lázaro e se mudará para lá. Neste lugar havia pessoas com problemas mentais, leprosos, filhos rebeldes de nobres, sacerdotes com problemas e muitos pobres. Agora, São Lázaro estava funcionando com mais de 600 lugares e prosperou desde o início.

Lição: Às vezes, leva-se um certo tempo para que todas as peças de um bom plano encaixem-se. (“Deus o fez”). Vincente descobriu seu grande e audacioso objetivo, com a ajuda de Deus.

14. Vicente tinha 1 metro e 73 centímetros de altura.

Lição: Tamanho não é tudo. Não é necessariamente uma pessoa grande que faz uma grande diferença.

15. Vicente soube equilibrar e fazer interagir na sua vida e no seu trabalho, oração, reflexão e ação.

Lição: É muito mais fácil viver uma vida equilibrada, se você mixa os componentes básicos. 

16. Vicente viveu concretamente a vida, só mais tarde redigirá as regras. Ele escreveu as regras da Congregação da Missão 33 anos depois da fundação da mesma.

Lição: Viva a vida de maneira reflexiva, faça pequenas mudanças no caminho.

17. Vicente viveu 80 anos. Ao morrer, pensou que não tinha feito o suficiente. A expectativa de vida no seu tempo era de 35-37 anos.

Lição: Você pode ter muito mais tempo e ocasião para fazer o bem do que você merece. Nunca é tarde demais para começar. Oscar Schindler, refletindo sobre sua vida (no filme “A Lista de Schindler”) disse: “Eu poderia ter feito mais!” Conta-se que, quando Vicente estava no seu leito de morte, alguém lhe perguntou o que ele teria feito de maneira diferente em sua vida, e ele disse “mais”.

18. Vicente era de origem camponesa, de uma família de agricultores relativamente confortável, e era também um bom conhecedor do direito, sendo muito eficiente em matéria de procedimento jurídico.

Lição: Conheça suas raízes e poderá ajudar as pessoas que trabalham com você. 

19. Vicente era um trabalhador infatigavel e tinha um temperamento muito forte, era bom em fazer mímicas, podia contar boas histórias e se relacionava bem com as mulheres.

Lição: Conheça os seus dons, seus pontos fortes e suas limitações – potencialize-os.

20. Vicente vendeu um cavalo alugado e desapareceu por dois anos; depois contou uma grande história para explicar sua ausência. Mais tarde, ele tentou reaver o que ele chamou de “aquelas cartas miseráveis” contendo a história da qual ele nunca falou.

Lição: Tudo bem se você tiver coisas em seu passado que não fazem sentido; faça sempre o bem.

21. Vicente foi aos camponeses pobres. Em seu tempo, 98% da população vivia nos campos, não nas cidades.

Lição: Vá onde há necessidade; não a espere vir até você. Quando Vicente tomou posse de São Lázaro, ele disse à sua equipe para não esperar que os hóspedes pedissem uma toalha ou um sabão, mas que providenciasse tudo para eles, com diligência. (Quando a polícia prendeu o famoso ladrão de bancos Willie Sutton, um policial perguntou-lhe o motivo pelo qual ele roubava bancos. Ele respondeu: “Porque é lá que o dinheiro está”.) 

22. Vicente pregou um sermão de “um milhão de dólares” que mudou a sua vida e as vidas dos pobres na França. Este sermão, que ele pregou em Folleville, surpreendeu-o e está na origem da descoberta da missão de toda a sua vida. Posteriormente, a senhora de Gondi oferece um fundo de US$ 2,5 milhões para a missão de Vicente.

Lição: Seja atento às pessoas, depois tente ser bom no uso da palavra, seja na fala ou na escrita, e será um líder de fato. 

23. Ele pregou um segundo sermão também famoso. À partir deste, muitas pessoas se sentiram motivadas à dar alimentos e medicamentos à uma família; eram tantas pessoas que formaram um grande cortejo rumo àquela casa. Vicente olhou, viu aquilo, e percebeu imediatamente que havia ali uma grande caridade, contudo estava fracamente organizada. Seu maior dom, o de servir os pobres, passa pela sua capacidade de organizar o esforço das pessoas – é a primeira vez na história mundial.

Lição: Esteja atento às suas experiências, você pode encontrar seu maior talento. 

24. Vicente foi capaz de convencer o governo a mudar a forma como os prisioneiros eram tratados, para que as vidas deles se tornassem mais humanas.

Lição: Nunca subestime seu próprio poder e sua influência para fazer o bem.

25. Vicente não tinha medo de mudar as regras quando necessário. Também não tinha medo de deixar as coisas que não funcionavam.

Lição: Todo mundo comete erros; aprenda com eles e siga em frente.

26. Antes de envolver o clero no serviço aos pobres, ele teve de trabalhar na reforma e na educação do mesmo.

Lição: O melhor lugar para começar é, sempre que possível, o lugar onde você se encontra. Nós não podemos fazer isso sozinhos; lembremos que seguidores são líderes também.

27. Vicente escreveu a um de seus gestores – managers –, sobre o qual ouvira queixas de que estava servindo comida e vinho de má qualidade. Ele disse-lhe para servir boa comida e bom vinho aos que trabalham no serviço dos pobres.

Lição: Cuide de seu pessoal; celebre pequenos sucessos.

Conclusão

Talvez, a lição mais importante de todas é que Vicente era um homem de ação. A linha de ação que ele adotou naquela época, alguns a chamariam, hoje, de serviço proativo. É neste sentido que Pujo afirma que Vicente “acreditava na virtude da ação e gostava de usar esta divisa: Totum opus nostrum in operatione consistit (Toda a nossa missão consiste em agir)” (Pujo, 251).

Quais são os maiores nomes quando falamos de serviço aos pobres? Madre Teresa? São Francisco de Assis? Quem mais? Quem organizou a força humana para servir os pobres? Não foi Jesus, nem Francisco ou Madre Teresa que o fizeram de uma maneira englobante. Foi Vicente de Paulo.

Jesus inspirou-os todos: “Enviou-me para anunciar a Boa Nova aos pobres”.

Francisco pregou e viveu isto. Vicente fez tudo isso e acrescentou a organização. Ele criou, deste modo, o aprimoramento contínuo da qualidade através do trabalho direto com os mais pobres, adotado por todas as suas organizações. Melito (p. 62) explica:

“A caridade e a compaixão de Vicente foram além dos serviços costumeiros de dar comida e de vestir o pobre e o abandonado, de socorrer os doentes ou os refugiados de guerras ou de todo tipo de catástrofe. Ele não ficava esperando passivamente que o pobre viesse até ele. Ele era proativo, pois tomava a iniciativa de ir ao pobre. Em várias ocasiões, ele enviava membros de seu pessoal ‘aos casebres e sótãos miseráveis de Paris aos necessitados, especialmente para visitar os doentes’”.

Que ferait Vincent aujourd’hui? O que Vicente faria hoje?

Quando Walt Disney morreu, antes que pudesse começar a construção do DisneyWorld, o conselho de administração da Disney decidiu enterrar o projeto. Mas o irmão de Walt, Roy, já aposentado, largou a aposentadoria e disse: “Vamos construí-lo por Walt.” Eles construíram e inauguraram a mais bem sucedida empresa de entretenimento familiar. Então, ao longo dos 23 anos seguintes, os líderes da Disney se perguntavam, “O que Walt faria?” Por conseguinte, eles perderam o próprio caminho, repetindo a si mesmos essa mesma pergunta – o que muitos descreveram como “Gestão por Invocação”.

Hoje em dia, facilmente nos pegamos perguntando-nos : “O que Vicente faria?” ou “O que Jesus faria?” Nós, no entanto, sempre encontraremos nosso caminho, se nos fizermos, antes de tudo, a pergunta Vicentina essencial feita pela senhora de Gondi, “Alguma coisa deve ser feita; o que eu devo fazer?” Vicente fez esta pergunta ao povo em Châtillon, e eles deram comida aos pobres. Ele descreveu ao rei da França as condições dos prisioneiros obrigados ao trabalho forçado nas galeras; o rei o enviou para que pudesse melhorar a situação deles. 

À partir do momento que temos consciência de que alguma coisa deve ser feita e se formos corajosos o bastante para nos perguntar “o que eu devo fazer?”, nós sabemos “o que Vicente faria”

Leituras recomendadas  

Coste, C.M., Pierre, Monsieur Vincent, Le grand saint du grand siècle (Paris: Desclee, 1934). English edition: The Life and Works of St. Vincent de Paul, Trans. Joseph Leonard, C.M. (Brooklyn, NY: New City Press, 1987). 

Fuechtmann, Thomas G., “There is Great Charity, But...,” Vincentian Heritage, DePaul University Vincentian Studies Institute, Chicago, 2005. 

Gladwell, Malcolm, The Tipping Point How Little Things Can Make a Big Difference, New York: Little, Brown and Company, 2000. 

McKenna, C.M., Thomas, Praying with Vincent de Paul, St. Mary’s Press Christian Brothers Publications, Winona, Minnesota, 1994.

Melito, C.M., Jack. Saint Vincent de Paul: His Mind and His Manner, DePaul University Vincentian Studies Institute, Chicago, 2010.

Murphy, C.M., J. Patrick, “Servant Leadership in the Manner of Saint Vincent de Paul,” Vincentian Heritage, DePaul University Vincentian Studies Institute, Chicago, 1998.

Murphy, C.M., J. Patrick, “We Want the Best,” Vincentian Heritage, DePaul University Vincentian Studies Institute, Chicago, 2005. 

Murphy, C.M., J. Patrick, “Hospitality in the Manner of St. Vincent de Paul,” Vincentian Heritage, DePaul University Vincentian Studies Institute, Chicago, 2015. 

Paul, Vincent de and Coste, Pierre C.M., “Correspondence, Conferences, Documents, Volume II. Correspondence vol. 2 (January 1640- July 1646).” (1988).

Pujo, Bernard, Vincent de Paul the Trailblazer, Notre Dame: University of Notre Dame Press, 2003.

Roman, C.M., Fr. Jose Maria, St. Vincent de Paul A Biography, London: Melisende, 1999  

Sobre o autor*

J. Patrick Murphy, CM, Ph.D., é professor honorário na área da Liderança Servidora Vicentina e Diretor Animador de Valores da Depaul International, organização a serviço dos sem-abrigo, presente em seis países. 

Tradução para o português: Pe. Vandeir Barbosa, CM

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